O que seria uma simples consulta médica se tornou um constrangimento, desrespeito e agressão verbal à paciente Obelinda Ribeiro Pinto, 76 do município de Maracanã/PA. A paciente apresentou, há cerca de 30 dias, um quadro de intensa agitação e perda de memória, o que a trouxe à capital para cuidados mais específicos.
Em consulta agendada com o neurologista Sr. Paulo Simões Rosado (CRM- 999049), médico lotado na Casa do Idoso em Belém, foi humilhada e teve seus direitos violados, uma vez que foi chamada pelo então médico de “mal tratada” além de agir com truculência e arrogância com os acompanhantes da paciente.
Pseudo-profissionais atuarão dessa forma?
Abaixo o documento na íntegra
É provável que a denúncia que passo a relatar não seja um fato isolado, o que na verdade só piora a situação. Sou plenamente ciente das dificuldades por que passa o sistema de saúde em nosso estado e mesmo no Brasil. A mídia tem feito denúncias sistemáticas e contundentes sobre o verdadeiro caos que se instalou na saúde em nosso país. Sei também que na maioria dos casos os trabalhadores em saúde não tem a menor responsabilidade por essa situação, ao contrário, é seu trabalho, quase heroico, que ainda dá sustentação ao sistema.
Infelizmente existem profissionais que mancham a categoria. O relato que passo a fazer é recheado de exemplos de profissionais dessa estirpe. A senhora Obelina Monteiro Pinto, de 76 anos, residente no município de Maracanã (Pará), apresentou, há cerca de 30 dias, um quadro de intensa agitação e perda de memória. Foi levada por sua filha ao posto médico local. O médico de plantão, o Sr. Juraci Cesar da Cruz CRM-1216, em cujo carimbo consta como especialidades “Clínica Médica e Deficiência Mental”, receitou a seguinte medicação: 1- Haloperidol 20g(!), 2- Akineton 30g(!), 3-Amitriptilini 30g(!) e 4- Diazepan 20g (!).
Após 20 dias de ministrada essa medicação a paciente apresentou uma crise. Deixou de falar, de se alimentar de sólidos e apresentou uma rigidez muscular no pescoço e no queixo. Ato contínuo a filha da paciente retornou com ela ao médico que suspendeu a medicação por alguns dias. Com o agravamento do quadro a paciente foi trazida a Belém, capital do estado. No dia 16/06/2011 (quinta feira) às 8:30h a paciente foi encaminhada à Casa do Idoso, localizada na Av. almirante Barroso entre as Travessas Humaitá e Vileta, para consulta com o neurologista Sr. Paulo Simões Rosado CRM- 999049.
Nessa consulta o médico em questão foi extremamente mal educado e deselegante. Já na entrada da paciente ele perguntou a idade da mesma, ao ouvir a resposta, 76 anos, ele afirmou verbalmente: “ela está muito mal tratada” ao ouvir que a paciente tem uma condição social precária e estava há duas semanas sem se alimentar ele argumentou: “Não interessa. As filhas estão aí, gordas, e a mãe acabada. Eu tenho quase 70
anos e estou assim, super-bem.” Criticou profundamente a prescrição do médico Juraci César da Cruz, praticamente o responsabilizando pela crise da paciente. Disse ainda desconhecer a especialidade “Deficiência Mental”. Perguntado se faria alguma crítica formal ao procedimento do médico disse secamente: “não”. Feito isso encaminhou a paciente à psiquiatria. Indagado se faria algum exame clínico ou se solicitaria uma tomografia ou exame similar, ele se irritou profundamente e aos gritos bradou que o médico era ele e exigiu que eu me retirasse da sala. Ao que argumentei que só sairia quando a paciente também saísse. Ele então afirmou que “o que atrapalha a consulta são os parentes, que se metem sem ter conhecimento”. Sempre ríspido e mal educado o referido médico terminou a consulta afirmando que se quiséssemos poderíamos reclamar junto à direção da Casa do Idoso, sempre fazendo questão de frisar que ele é médico neurologista.
O atendimento em questão parece não condizer com as diretrizes adotadas em 2003 pelo SUS de uma Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (HumanizaSUS), que entre outras coisa preconiza: a “Defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo brasileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção de idade, etnia, origem, gênero e orientação sexual; Mudança nos modelos de atenção e gestão em sua indissociabilidade, tendo como foco as necessidades dos cidadãos, a produção de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde, valorizando os trabalhadores e as relações sociais no trabalho; Proposta de um trabalho coletivo para que o SUS seja mais acolhedor, mais ágil e mais resolutivo;” Grifos meus.
Além disso, a Carta de Direitos dos Usuários da Saúde, de 2006, estabelece que: “Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação”; e: “todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos”. Grifos meus.
O atendimento do Sr. Paulo Simões Rosado pode ser tudo, menos “humano, respeitoso ou acolhedor”, ao contrário se caracterizou pela arrogância e indelicadeza, justamente num momento em que paciente e
família se encontram extremamente fragilizados. Talvez pelo fato de nosso estado apresentar uma carência crônica de médicos neurologistas este senhor se dê ao direito de desdenhar de pacientes e dos preceitos humanizadores do SUS.
O objetivo desta denúncia não é o de desrespeitar o profissional em questão, mas assegurar à população o respeito aos seus direitos, permitindo, ainda que dentro das limitações impostas pela falta de políticas públicas adequadas, um atendimento humano aos pacientes e usuários da rede pública.
Informo que enviarei esta denúncia aos seguintes órgãos: 1- Secretaria Municipal de Saúde (SESMA); 2- Sindicato dos Médicos; 3- Conselho Regional de Medicina; 4- Ministério Público Estadual – Promotoria do Idoso e; 5 – Ministério da Saúde – Ouvidoria do SUS.
Fernando Carneiro