quarta-feira, 17 de novembro de 2010

JATENE GANHOU OU ANA PERDEU? QUEM PERDE MESMO É O POVO!


O que esperar do novo governo?
As eleições de 2010 mostraram que o povo paraense queria mudar. A decepção com o governo petista foi, e é ainda, muito grande. Eleita para mudar a forma de fazer política em nosso estado, Ana Júlia desbancou 12 anos de governo tucano (8 de Almir e 4 de Jatene), mas ficou presa nos emaranhados dos corredores do poder. Na prática se transformou naquilo que jurou combater: um governo refém dos grandes empresários e do grande capital. Sua campanha tinha como mote central o desenvolvimentismo, como se os grandes projetos fossem a saída para a miséria de nosso povo. O Pará é um estado rico, mas de povo pobre. O problema não está na falta de riquezas, mas na inexistência de uma política de redução das desigualdades sociais e econômicas. Mais projetos de grande porte (que em última instância nada mais são que a expressão maior do monopolismo capitalista) podem inclusive agravar o quadro de desigualdade. Para inverter esse modelo seria necessário investir na contra-lógica, seria priorizar o pequeno negócio (rural e urbano) que é responsável pela maioria dos empregos gerados. Ademais seria preciso coragem a apoio popular para implementar a inversão de prioridades e enfrentar a Vale e o agronegócio. Faltou tanto uma como outra coisa no governo petista. O final dessa história conhecemos bem: Ana Júlia perdeu em 94 dos 144 municípios, incluindo em 4 dos 5 maiores colégios eleitorais.
Jatene terá 4 anos para provar que ganhou a eleição. Digo isso porque fica a impressão que o resultado final foi uma opção por rejeitar o atual governo, mais que aprovar a proposta tucana. Em outras palavras parece que foi Ana Júlia quem perdeu, muito mais do que Jatene tenha ganho. Em verdade o melhor cabo eleitoral de Jatene foi, desde o princípio, o pífio governo petista. É duro, mas é a verdade.
A despeito disso Jatene tem uma governança relativamente confortável, pois não deve nada a ninguém, nem mesmo ao PMDB que no 2º turno hipotecou apoio ao tucano-pescador. Seu governo a partir de 2011 deve ser uma reedição de sua gestão anterior, com algumas mudanças superficiais. Um governo da elite para a elite, com um discurso popularesco e embusteiro. Isso porque está no DNA do PSDB sua vocação para excluir o povo e os movimentos sociais organizados de qualquer esfera de decisão. Nem mesmo durante a campanha eleitoral ele acenou com participação do povo nas decisões governamentais. Será um governo de “iluminados”, distante e descrente na força criadora do protagonismo popular. Deve também, como de costume, amaldiçoar a máquina herdada, justificando-se de forma muito semelhante ao que fez Ana Júlia, da falência das finanças do estado. Alguns projetos faraônicos de alta visibilidade e o mais completo desprezo aos investimentos sociais serão outra tônica. Ainda é muito cedo para afirmar (e pode soar como presságio apaixonado), mas creio que em 4 anos o povo estará, mais uma vez, frustrado, descrente e ávido por mudanças.

Campanha do Laço Branco: homens pelo fim da violência


A Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) promove no proximo dia 27 de novembro a Campanha do "Laço Branco: homens pelo fim da Violência", o encontro será no Ver-o-Peso a partir das 9h, com a entrega de laços aos feirantes e visitantes e um arrastão musical.

A Campanha Brasileira do Laço Branco tem por objetivo geral sensibilizar, envolver e mobilizar os homens no engajamento em ações pelo fim de todas as formas de violência contra a mulher, atuando em consonância com as ações dos movimentos de mulheres e de outros movimentos organizados em prol da eqüidade de gênero e justiça social.

Em linhas gerais, desenvolvem estratégias de comunicação voltadas a homens, de diferentes idades e em diferentes contextos, bem como palestras, campanhas comunitárias e distribuição de material alusivo à campanha em atos público. Ajudam também em processos de formulação e monitoramento de políticas públicas voltadas ao enfrentamento da violência contra a mulher, na forma de controle social sobre as ações do Estado.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ana Júlia: uma derrota anunciada

por Fernando Carneiro (*)

O projeto petista de governar o Pará por mais quatro anos não encontrou guarida no voto popular. No confronto eleitoral deste ano, o candidato do PSDB Simão Jatene saiu na vantagem, sendo eleito com 1.860.571 votos (55,74%) dos paraenses enquanto Ana Julia obteve 1.477.279 (44,26%).

Sinais de dificuldades para a reeleição já haviam sido detectados há algum tempo pelo comando petista. A elevada avaliação negativa de seu governo e o forte índice de rejeição tornaram irreversível o quadro desfavorável.

O PT apostou todas as fichas para tentar a sua reeleição. Seu governo torrou milhões em propaganda no rádio, jornais e televisão, como nunca se viu antes na história do Pará. Apresentou-se na disputa com um orçamento milionário, em torno de R$ 40 milhões, a mais cara do país, proporcionalmente falando. Compuseram sua coligação 14 partidos, com o apoio de 78 prefeitos, incluindo o da capital. Obteve o maior tempo de rádio e TV para expor o seu programa eleitoral, além da presença das maiores lideranças de seu partido, entre elas, a força inconteste do presidente Lula. Não pode, portanto, alegar falta de estrutura ou de tempo para expor suas propostas. Ainda assim, viu o seu condomínio ruir ladeira abaixo.

Ana Júlia começou a perder credibilidade quando teve o seu nome associado a escândalos gravíssimos desde o início de seu governo, alguns, com repercussão em nível nacional.

Seu governo foi marcado por fortes crises internas, sem perfil claro no modo de gestão, sem unidade programática, sem identidade. Um consórcio de partidos fisiológicos, conservadores e antipopulares, muito mal resolvidos. Uma junção de interesses e de personagens conhecidos por maus costumes, revestida de desavenças históricas.

Também foi incapaz de promover políticas públicas em favor da maioria explorada. Sem ações efetivas para atender necessidades fundamentais nas áreas da educação, da saúde, da segurança, entre outras. Um governo pífio em realizações. Não possibilitou a criação de canais efetivos de participação popular, ao contrário, reprimiu e criminalizou os movimentos sociais combativos que resolveram lutar por direitos e questionar o seu governo. Ademais não atendeu nem as demandas originadas pelo seu malfadado PTP (Planejamento territorial participativo), uma imitação barata do que foi o Orçamento Participativo e o Congresso da Cidade, que funcionaram no Governo do Povo à época do governo de Edmilson Rodrigues em Belém.

Seu governo frustrou as expectativas de mudança que possibilitaram sua vitória em 2006, quando derrotou doze anos de hegemonia tucana. Ana Júlia e o PT descobriram, da maneira mais dura possível, que não se pode criar expectativas em vão. O povo foi implacável com as falsas promessas.

Não bastasse o horizonte nebuloso, Ana Júlia e seu partido embarcaram numa aventura ainda mais perigosa. Aliaram-se a figuras nefastas da política paraense, tais como o atual prefeito de Belém, Duciomar Costa (PTB), o condenado pedófilo e ex deputado Seffer (PP), o ex governador Almir Gabriel, privatistas, responsável pelo massacre de Eldorado do Carajás, entre tantos outros da mesma estirpe e falta de moral. Com o mesmo grau de vulnerabilidade que conseguiram erguer o castelo de alianças em torno de sua candidatura, o viram desmanchar. O resultado foi esse aí, um caminho claro ao retrocesso político no estado. Os princípios que fizeram grande o PT foram jogados na lata do lixo, o único que restou foi o “princípio” de se manter no poder a qualquer custo. Triste epitáfio para quem outrora foi legítimo representante dos anseios populares.

Alguns “analistas” afirmam que a esquerda foi derrotada. Não é verdade. Quem foi derrotado foi esse projeto, não a esquerda paraense. O PSOL, que elegeu uma senadora e o deputado estadual mais votado da história do Pará, além de obter mais de 107 mil votos para o governo (tendo votos em todos os 144 municípios) foi amplamente vitorioso. Tornou-se uma referência inconteste para amplos setores populares.

Agora, caberá aos seus estrategistas de campanha, analisarem seus erros e repensarem seus conceitos. Ao povo e às forças políticas comprometidas com a causa socialista caberá continuar o combate à miséria, à exploração, contra a violação e pela ampliação de direitos. O PT, que tão facilmente se acostumou às artimanhas dos corredores palacianos, vai passar por uma nova prova: reaprender a ser oposição depois de ter sido derrotado pelo voto popular.

Fernando Carneiro é historiador, dirigente do PSOL e foi candidato ao governo do Estado do Pará
Publicado no Ponto de Pauta para o livre debate