
O que esperar do novo governo?
As eleições de 2010 mostraram que o povo paraense queria mudar. A decepção com o governo petista foi, e é ainda, muito grande. Eleita para mudar a forma de fazer política em nosso estado, Ana Júlia desbancou 12 anos de governo tucano (8 de Almir e 4 de Jatene), mas ficou presa nos emaranhados dos corredores do poder. Na prática se transformou naquilo que jurou combater: um governo refém dos grandes empresários e do grande capital. Sua campanha tinha como mote central o desenvolvimentismo, como se os grandes projetos fossem a saída para a miséria de nosso povo. O Pará é um estado rico, mas de povo pobre. O problema não está na falta de riquezas, mas na inexistência de uma política de redução das desigualdades sociais e econômicas. Mais projetos de grande porte (que em última instância nada mais são que a expressão maior do monopolismo capitalista) podem inclusive agravar o quadro de desigualdade. Para inverter esse modelo seria necessário investir na contra-lógica, seria priorizar o pequeno negócio (rural e urbano) que é responsável pela maioria dos empregos gerados. Ademais seria preciso coragem a apoio popular para implementar a inversão de prioridades e enfrentar a Vale e o agronegócio. Faltou tanto uma como outra coisa no governo petista. O final dessa história conhecemos bem: Ana Júlia perdeu em 94 dos 144 municípios, incluindo em 4 dos 5 maiores colégios eleitorais.
Jatene terá 4 anos para provar que ganhou a eleição. Digo isso porque fica a impressão que o resultado final foi uma opção por rejeitar o atual governo, mais que aprovar a proposta tucana. Em outras palavras parece que foi Ana Júlia quem perdeu, muito mais do que Jatene tenha ganho. Em verdade o melhor cabo eleitoral de Jatene foi, desde o princípio, o pífio governo petista. É duro, mas é a verdade.
A despeito disso Jatene tem uma governança relativamente confortável, pois não deve nada a ninguém, nem mesmo ao PMDB que no 2º turno hipotecou apoio ao tucano-pescador. Seu governo a partir de 2011 deve ser uma reedição de sua gestão anterior, com algumas mudanças superficiais. Um governo da elite para a elite, com um discurso popularesco e embusteiro. Isso porque está no DNA do PSDB sua vocação para excluir o povo e os movimentos sociais organizados de qualquer esfera de decisão. Nem mesmo durante a campanha eleitoral ele acenou com participação do povo nas decisões governamentais. Será um governo de “iluminados”, distante e descrente na força criadora do protagonismo popular. Deve também, como de costume, amaldiçoar a máquina herdada, justificando-se de forma muito semelhante ao que fez Ana Júlia, da falência das finanças do estado. Alguns projetos faraônicos de alta visibilidade e o mais completo desprezo aos investimentos sociais serão outra tônica. Ainda é muito cedo para afirmar (e pode soar como presságio apaixonado), mas creio que em 4 anos o povo estará, mais uma vez, frustrado, descrente e ávido por mudanças.