segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Entrevista com Fernando Carneiro (PSOL)


Fernando Carneiro é um militante socialista com longa trajetória nos movimentos sociais. É historiador, formado pela Universidade de São Paulo (USP) com licenciatura Plena pela Faculdade de Educação (USP).

Fernando Carneiro participou ativamente, ainda na adolescência, do processo de reorganização do movimento estudantil paraense no inicio dos anos 80, destacando-se sua atuação na luta pela “meia passagem”. Em 1983, ainda sob a ditadura militar, foi, ao lado de outras lideranças estudantis, enquadrado na famigerada Lei de Segurança Nacional (LSN), por participar da luta contra a ditadura e por integrar o movimento “Diretas Já”. Julgado por um Tribunal Militar foi absolvido. Foi fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) Em 1987, após o falecimento de seu pai, mudou-se para São Paulo onde militou primeiro no movimento estudantil e depois no movimento sindical através do Sindicato dos Trabalhadores da USP (SINTUSP). Ainda em São Paulo trabalhou por 8 anos na Companhia de engenharia de Tráfego (CET). Voltou para Belém em 1999 e se integrou ao “Governo do Povo”, na então administração de Edmilson Rodrigues desempenhando a função de Presidente da Companhia de Transportes de Belém (CTBEL). Em 2005, filiou-se ao PSOL onde, desde o primeiro momento, integra a direção estadual do Partido.

Atualmente ocupa o cargo de Secretário de Movimentos Sociais na Executiva Estadual do PSOL.


BLOG - Qual o maior problema do Estado do Pará? E como o sr. pretende enfrentá-lo?
FERNANDO - São muitos os problemas enfrentados pelo povo do Pará. No centro dessa situação dramática está um problema gritante: a lógica predatória implantada pelas elites que se revezam no poder há décadas, através da qual os mais ricos ficam cada vez mais ricos e o povo trabalhador é jogado na miséria e na falta de perspectivas.
O PSOL, como um novo partido socialista, busca se construir como alternativa a esses projetos fracassados. Nosso maior desafio é mostrar à população que está bastante desesperançada que, justamente, não se deve perder a capacidade de indignação diante das injustiças, ao mesmo tempo em que se mantém o horizonte da luta por um Pará mais humano e mais justo.

BLOG - O desemprego é um problema brasileiro, quais as medidas que tomará para minimizá-lo?
FERNANDO - A nossa prioridade será a criação de um programa de formação e inclusão de jovens do mercado de trabalho. Este será o centro de nosso programa de geração de renda e emprego porque é aí que se localiza a área de maior sensibilidade para esta tragédia social na qual o Pará está mergulhado. Nossa juventude está virando refém do narcotráfico e da criminalidade. É por isso que explode a violência em todos os cantos. Só com programas sociais verdadeiros e articulados será possível enfrentar esse gravíssimo problema.
Da mesma forma, vamos manter e gerar emprego e renda em estabelecimentos de pequeno porte e em coletivos de cooperados, dando como apoio crédito solidário, com o Banco do Povo. Vamos promover ações de cooperação com as instituições de ensino e pesquisa (UFPA, UFRA, EMBRAPA e UEPA) na busca de novas tecnologias no cultivo e manejo sustentável. Ampliaremos também as possibilidades de reinserção no mercado dos trabalhadores acima de 40 anos, parcela que deve merecer uma atenção especial do poder público.
BLOG - A segurança pública é uma grande preocupação da população paraense, quais são seus projetos nesta área?
FERNANDO - Nós, do PSOL, acreditamos que as rondas não conseguem conter a violência, ainda mais quando o governo transforma ações de policiamento em marketing eleitoral. É preciso repetir que a repressão isoladamente não consegue reduzir os índices de violência. O combate ostensivo ao crime é essencial, mas não é suficiente. É necessário garantir políticas públicas integradas e efetivas para que a juventude tenha uma boa educação e reais oportunidades na área da cultura, esporte e lazer. Esse é o caminho para romper com o círculo vicioso da violência que ameaça a vida de nossa gente, na capital e no interior.
BLOG - Vira e mexe a divisão do estado do Pará volta a ser tema, qual sua opinião sobre esse assunto?
FERNANDO - O PSOL discutiu bastante esse tema. As razões para defender a divisão são basicamente duas: abandono do governo e o fato do Pará ser muito grande. É bom que se diga que as duas são verdadeiras. Os governos anteriores relegaram o interior à sua própria sorte e o estado é grande mesmo, mas a divisão do estado não é a solução para os problemas levantados. É como se o remédio fizesse mais mal que a doença. A questão não é geográfica, mas política. Se estado pequeno fosse sinônimo de desenvolvimento, Sergipe, Espírito Santo e Rio de Janeiro não teriam problemas de violência, miséria e favelização. Dividir o estado beneficiaria as grandes empresas e concentraria ainda mais a riqueza nas mãos das elites dominante. Um governo corajoso, que esteja apoiado na participação popular pode implantar um novo modelo de desenvolvimento que supere o abandono.

BLOG - O que você destacaria como mérito pessoal, que lhe diferencia dos outros candidatos ?
FERNANDO - Desde muito jovem assumi o compromisso de dedicar minha vida à luta por um mundo sem a exploração do homem pelo homem. É este compromisso que carrego como um compromisso de vida e que me torna companheiro de todos e de todas que pensam neste mesmo sentido.
Fazer política, disputar eleição, portanto, faz parte dessa jornada que se iniciou ainda durante a resistência à ditadura militar.
A população precisa estudar a história de vida de cada candidato. Mais ainda, precisa lançar um olhar crítico sobre o que cada candidatura representa no presente, quais são suas alianças e o que efetivamente elas pretendem realizar. Somente assim o povo poderá exercer de forma consciente a soberania do voto.
BLOG - A saúde sempre precisa de investimentos, quais são seus projetos neste setor ?
FERNANDO - O nosso governo deseja inverter a lógica também na saúde, o que significa, em primeiro lugar, retomar a gestão pública desta área, que desde o governo dos tucanos foi entregue à empresas privadas. Saúde, como se sabe, não rima com o lucro. É uma questão de vida e o Estado precisa assumir seu papel.
Afirmaremos a prioridade à atenção primária de saúde, para prevenir as doenças, repassando recursos para que os municípios possam realizar os programas de prevenção de maneira adequada. Para ser coerente com este princípio, o governo do PSOL vai retomar os hospitais regionais para o controle público, além de investir na qualificação e melhoria salarial dos trabalhadores so setor.

BLOG- A educação pode melhorar ? De que forma pretende fazer isso?
FERNANDO - A educação é a principal base de um povo, é aquilo que transforma e liberta.
O PSOL não tratará os professores na base da repressão como fez o atual governo. O tratamento democrático das lutas sindicais é um compromisso de honra para o PSOL.
Assim, investiremos pesado na área do transporte escolar que está em colapso e atacaremos de frente o problema do sucateamento da rede física. Da mesma maneira, implantaremos, em estreita e democrática relação com o movimento sindical, as conquistas asseguradas no Plano de Cargos e Salários dos professores e demais profissionais da educação pública.
BLOG - Qual será a grande obra física de seu governo caso se eleja, e porque?
FERNANDO - Não é possível antecipar obras físicas. Esse tema será objeto do amplo processo de participação popular que implantaremos. Porém, o grande diferencial de nosso governo será a coragem de enfrentar os mais sentidos problemas enfrentados pela população a partir da lógica das maiorias. O Pará é um estado rico e seu povo não agüenta mais continuar sendo excluído dos benefícios desse patrimônio que pertence a todos.
BLOG - Se pudesse realizar um sonho pessoal, qual seria ele?
FERNANDO - Os sonhos pessoais devem se expressar num projeto coletivo. Não é por outro motivo que sonho com um Pará, um Brasil e um mundo livres de todas as formas de exploração e opressão. Um mundo onde todas as pessoas possam viver e viver plenamente, libertas da miséria e da violência.

BLOG - Porque a população deve lhe dar o voto?
FERNANDO - Porque merecemos a sua confiança. O PSOL, apesar de tão poucos anos de vida, já carrega um importante patrimônio de credibilidade e respeito. A população sabe que pode confiar em quem dedica a vida à luta por justiça, mantendo-se fiel a esses princípios.
O eleitorado do Pará sabe que nestas eleições existem muitos candidatos, mas apenas dois projetos. De um lado, aqueles que já governaram e fracassaram redondamente. Isso inclui PMDB, PSDB e PT. De outro, está surgindo uma alternativa, de esquerda em popular, representada pelo PSOL.
Nestes meses de campanha, em cada bairro, em cada comunidade que visito, na capital e no interior, vejo que as pessoas querem mudar. Mas mudar de verdade. Não é possível que a cada eleição se prometa uma mudança que não chega nunca.
Estou convencido que o povo saberá, em 3 de outubro, através do voto, virar essa página e abrir um novo tempo de lutas e de conquistas para todos que amam essa terra.

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